Um dos grandes problemas corporativos do Século XXI é o microgerenciamento. Essa prática é tão grave que ocasiona uma série de problemas em efeito cascata, tanto para quem gerencia dessa forma, como para pessoas assim gerenciadas.

O microgerenciamento é praticado por gestores e líderes que se acostumaram a gerenciar todas as atividades das equipes nos mínimos detalhes. No passado, era comum que uma pessoa de cargo superior detalhasse a ponto de dizer como seus funcionários deveriam executar as tarefas e vigiá-los até o fim, como forma de tentar garantir que tudo saiu conforme a explicação.

Em alguns casos até fazia sentido que as ordens fossem dadas dessa forma, pois não vivíamos em uma Era Digital em que as soluções podem estar na palma da mão, além de que muitos trabalhos eram muito manuais e exigiam pouca criatividade.

Entretanto, os tempos mudaram, mas a mentalidade de gestão de muitas lideranças não acompanhou as mudanças. Essa atitude muitas vezes diz respeito à insegurança ou inexperiência dos próprios comandantes, mas também pode ser um sintoma de falta de confiança desses profissionais em relação aos seus comandados.

A frase “se você quer algo bem feito, faça você mesmo” é um mantra para quem microgerencia pessoas e processos. Não se engane: não é porque a frase dá a entender que a pessoa é capaz de resolver tudo sozinha que isso signifique que, de fato, é possível e realmente produtivo.

Então, o microgerenciamento começa a escalonar e atingir todos os membros da equipe. Se o empreendimento atua com equipes multidisciplinares, o problema se torna generalizado, pois a atuação nociva do gestor/líder microgerenciador passará a afetar profissionais de equipes geridas por outras lideranças.

Como identificar o microgerenciamento

Estes são alguns sintomas que permitem identificar atitudes de gestores e líderes microgerenciadores:

  • Definir o que cada colaborador deve fazer e como fazer
  • Pedir para ser copiado em todos os e-mails trocados pela equipe a ler mensagem por mensagem
  • Avaliar cada avanço de demandas ou entregas feitas pelos colaboradores
  • Mudar detalhes ou refazer por completo trabalhos já executados
  • Monitorar as atividades da equipe
  • Exigir que todos os problemas que surgirem sejam reportados, para que possam realizar o que for preciso para solucioná-los
  • Constantemente trazer sugestões para que os colaboradores executem uma atividade, seja a própria sugestão, ou então a documentação da ideia sugerida para que futuramente seja realizada

Tudo isso consome muita energia e, principalmente, tempo dos gestores e líderes, cujas funções deveriam ser focadas em liderar as pessoas, dar autonomia aos colaboradores e analisar o macro para planejar estratégias de crescimento da empresa.

De modo comparativo: quem pratica microgerenciamento age como se fosse uma babá, cujo dever é cuidar um bebê a todo momento para que ele não passe nenhuma dificuldade, mas também com um aspecto “caprichoso” de querer que tudo seja feito exatamente conforme sua vontade.

Impactos negativos em todos envolvidos

Para quem microgerencia os impactos negativos mais comuns são: ansiedade a mil, baixa capacidade analítica, cansaço, stress e tensão causados pelo acúmulo de horas dedicadas à fiscalização excessiva e improdutiva. Além de afetar intensamente a saúde física e mental, o microgerenciamento pode fazer com que o gestor/líder prejudique a qualidade do ambiente, ofusque o real propósito da empresa e perca a confiança dos colaboradores em definitivo.

Há efeitos negativos semelhantes para quem é microgerenciado. Ansiedade, cansaço, stress e tensão são os principais. Desmotivação, perda do senso de pertencimento e falta de confiança nas chefias também são sintomas comuns.

Portanto, veja como microgerenciar gera impactos negativos escalonáveis e paradoxais. Sim, paradoxal porque ações que visam a tentar garantir a qualidade que o gestor/líder deseja em análises individuais controladoras podem gerar efeitos em todo o empreendimento, especialmente no que diz respeito à perda de clareza na metodologia de gestão e no propósito do negócio.

Como evitar que o microgerenciamento contamine sua empresa

As dicas a seguir são muito úteis, especialmente se você está em um cargo de liderança vendo que outro(s) líderes da empresa estão microgerenciando suas equipes, ou se você é o(a) gestor(a) que acaba de se dar conta do quão nocivo está sendo seu comportamento e deseja, então, mudar a atitude.

Boa notícia! O primeiro passo você já deu: conhecer as características e os sintomas do microgerenciamento.

Conhecer o problema e as consequências é fundamental não apenas para agir se você ou alguém está microgerenciando pessoas e processos, mas também para prevenir que o microgerenciamento contamine sua empresa.

O segundo passo é adotar uma metodologia de gestão atual e flexível, que foque em resultados ao invés de processos. A metodologia OKR, popularizada pelo Google, é uma ótima opção. É fundamental dar autonomia aos colaboradores, inclusive incentivando-os a se autogerenciarem e a resolverem por conta própria problemas que não sejam graves. Tenha em mente que as pessoas erram e isso é normal, então erros farão parte do processo de adaptação, e a melhor forma de evitar que ocorram novamente é dando feedback construtivo às pessoas.

Aliás, o feedback é importantíssimo não apenas em situações de erro, mas também em momentos positivos. Portanto, a terceira dica é criar momentos específicos para realizar avaliações individuais e em grupo, de modo que cai por terra a necessidade de avaliar diariamente todos os movimentos e entregas dos colaboradores, deixando de interferir a todo momento na qualidade do trabalho de cada profissional.

Outro entendimento difícil, porém necessário, é perceber que é humanamente impossível controlar tudo na vida. Controle é uma ilusão. Entender isso ajuda a reduzir níveis de ansiedade, especialmente quando o gatilho seria relacionado a uma tarefa que um microgerenciador tentaria controlar, mas obviamente falharia.

Por fim, veja como deixar de microgerenciar é uma forma de valorizar seu próprio tempo. De que adianta fazer tantas horas extras por conta do controle obsessivo e sempre se sentir insatisfeito com os resultados? Valorize-se. Foque em ser produtivo de modo saudável e em cuidar do seu bem-estar.